outubro 26, 2010

Assim é a vida...

cair sete vezes e levantar-se oito! :(

outubro 21, 2010

É o número 11!

"Vejamos um exemplo. Imagine que você está vivendo um momento de profunda dúvida em sua vida. Você tem um trabalho estável há dez anos e o destino lhe traz a chance de trabalhar em algo diferente. O desafio e a novidade lhe atraem, ainda que haja insegurança quanto a deixar o emprego ao qual você inevitavelmente se acostumou. Você então sai para uma caminhada, tentando clarear a mente e conseguir alguma resposta consigo mesmo. Ao caminhar pelas ruas, você passa pelas pessoas como se elas lá não estivessem, sentindo-se totalmente mergulhado nas interrogações de sua mente. Quando se encontra um tanto angustiado pela dúvida, pergunta a si mesmo de maneira consciente: "o que eu vou fazer?", e é então que escuta a conversa de duas pessoas pelas quais você vem a passar exatamente naquele momento. Uma delas diz: "é número 11".

O mesmo processo poderia ocorrer de outra maneira, digamos, você poderia formular uma pergunta de maneira consciente e de repente perceber um número 11 em um edifício, casa, ou seja, o que for. Ou alguém usando uma camiseta com o número 11 cruza seu caminho. Ou mesmo ainda o sino da igreja toca onze vezes. Não importa como o número vem, o importante é o número em si, pois ele traz uma mensagem.
Algo faz cair a ficha. De alguma maneira curiosa, você sente que esta é a resposta para sua pergunta. O que fazer? É número 11. Se você sabe o que significa este número, ou seja, se você tem uma impressão sobre o mesmo, a coisa soará como uma mensagem. Neste caso, lembremos que o número 11 implica excesso, pois está além da perfeição e finalização de 10.
Desta forma a mensagem começa a tomar corpo, sugerindo que a mudança de emprego seria melhor que manter uma condição de vida já estabelecida. Conclui-se que a sugestão é seguir adiante, então mudar de emprego seria melhor que manter uma condição de vida já estabelecida. Por outro lado, se o número fosse 10 ao invés de 11, a idéia seria continuar trabalhando no mesmo local - uma mudança seria até mesmo arriscada, já que 10 é a confirmação do que já existe. Ao contrario de 11, 10 não é o começo de um novo caminho."

11

"O número das revelações. O plano de conhecimentos mais elevados. O ideal. A junção de Deus (1) com o mundo (10): é o sinal do início do conhecimento de Deus, isto é, da admissão à vida superior dos céus. Símbolo da transição, excesso e perigo. Número da fragmentação, sendo por isso também considerado diabólico."

outubro 18, 2010

Carta a ti

Pai,

Hoje sinto necessidade de te escrever, mais uma e tantas vezes. Encontro através da escrita a forma mais fidedigna de comunicar contigo. Sabes o projecto ao qual me tenho dedicado ultimamente, tem sido grande o esforço e o empenho, embora, por vezes, sinta que ainda não tenho a concentração e lucidez necessárias para fazer o melhor que posso. Mas vou caminhando nele, tentando produzir exactamente aquilo que pretendo dar a conhecer...só espero que todo este esforço seja recompensado, que encontro forma de concretizar aquilo que desejo em tua homenagem e em nossa também. Tenho a certeza de que irias aprovar se aqui estivesses...pode demorar mais do que o previsto, mas não vou desistir.

Sabes como a vida não tem sido fácil para nós. Viver com a tua ausência, sob toda e qualquer forma possível, é uma sensação bastante dolorosa. Não tinha que ser assim, havia tantas alternativas possíveis, menos fatais e mais apaziguadoras. Seria egoismo pedir que pudesse ser de outra forma?; dizer que merecíamos tudo menos isto? Na verdade sei que ninguém o merece, mas, vivido na primeira pessoa, é incomparável o vazio que sente. Nunca mais deixará de haver vazio, nunca mais deixaremos de ter saudades, nunca mais teremos uma família completa e feliz. Faltas tu e isso é um facto incontornável! Eu sei o que te prometi, sei o que me pediste...estou a fazer o meu melhor, acredita! Faço o que posso e o que não posso, o que tenho e não tenho vontade de fazer para que as coisas se tornem um pouco mais leves. Leves nunca o serão, mas pelo menos se conseguir aliviar uma parte do peso e da tristeza, sinto-me um pouco mais calma por saber ser esse o teu maior desejo.

Este meu ano foi de bradar aos céus. Já tinha começado mal, lembraste? Comentei contigo e até disse "já que começou mal, só espero que acabe bem!" Mal sabia eu o que esperava...vivi e continuo a viver o piores momentos da minha vida. A conjuntura que me rodeia não tem sido fácil, a todos os níveis. Conto com a tua ajuda aí de cima para, pelo menos, não me deixares perder as forças sempre que não tenho vontade de continuar. Nos três planos mais importantes da minha vida vejo-me completamente à beira do percipicio, os três vértices do meu triângulo estão desconectado e profundamente afectados (família, trabalho e amor). Às vezes pergunto-me se vale a pena continuar, sem ter a menor luz que me ilumine o caminho...dou por mim, tantas e tantas vezes nos últimos tempos, a caminhar só por caminhar, só para não dizer que estou parada. Caminho sem direcção, sem objectivo, sem saber o que me espera; e de cada vez que algo novo ocorre, é o lado negativo que sai reforçado. Parece que ainda não é mau o suficiente, há sempre algo mais que ajuda a piorar a situação. Tenho tentado manter-me firme... Por ti, pela mãe e pelo mano! Só por vocês... Não te preocupes, eu não vou desistir, jamais o poderia fazer. Sinto o peso da responsabilidade de reerguer uma parte daquilo que nos deixaste, para pelo menos podermos (sobre)viver com alguma paz.

Estou aqui por ti e para ti! Só te peço: vai enchendo as minhas reservas de energias, porque tenho medo de um dia não conseguir mais levantar-me.


Um beijo de saudade

PS - Tenho muitos momentos em que ainda não acredito, não parece possível, sabes! Em breve estaria à tua espera...

Será mesmo?

"Coragem é a capacidade que temos de fugir de tudo o que nos leva a fugir de nós."




 - Eduardo Sá in Tudo o que o Amor não é -

outubro 06, 2010

O desejo (o maior de todos)

Gostava que tudo voltasse a fazer sentido para ti, tal como um dia voltou a fazer para mim. Seria a pessoa mais feliz deste mundo se assim fosse... Daria tudo o que tenho e posso, e até mesmo o que não tenho nem posso, tudo mesmo para que os momentos de felicidade fossem superiores e galvanizadores. Sinto cá dentro que tudo seria perfeito. Não aquela perfeição perfeita irreal, mas perfeito de uma forma que nos enchesse o coração todos os dias e nos dissesse que juntos tudo seria mais fácil e melhor. Confio verdadeiramente nisso, ainda que desconfies de mim...algo que carrego me empurra insistentemente para essa estrada onde me vejo sozinha, mesmo quando eu penso em desistir, mesmo quando eu vejo que não vale a pena, mesmo quando eu decido esquecer. É mais forte do que eu, tão mais forte que não me deixa opção senão acreditar mesmo e esperar que algo mude: ou o meu pensamento ou o teu sentimento.
Daria tudo...e não dou nada, simplesmente porque não me deixas, porque não sentes o mesmo que eu, porque não acreditas junto comigo. Já não partilhamos sonhos, ambições e realidades. Partilhamos um passado que já foi, um presente que não é e um futuro que pode vir a ser ou que nunca mais será.
Resta-me (sobre)viver com a certeza de que tentei...

outubro 04, 2010

Solidão

Vejo-me completamente sozinha em muitos momentos. Não falo no sentido físico do termo, talvez seja mais correcto dizer que me sinto emocionalmente só. Algumas pessoas estão por perto, demonstram alguma atenção regular, tentam imaginar o sofrimento pelo qual estamos a passar, esforçam-se pelo menos.
Contudo, a maioria das pessoas não demonstra qualquer disponibilidade perante o sofrimento do outro. Atenção, não estou a condernar ninguém, nem quero que assim seja entendido, eu própria talvez o tenha feito tantas vezes, faz parte da condição humana. Afastamo-nos do sofrimento alheio até ele nos atingir sem possibilidade de fuga, talvez seja até inconsciente a ideia de é contagiante e, como ninguém gosta de sofrer, tendemos a 'fugir' dessa realidade, se não convivermos com ela, não seremos contagiados. Esse dogma dar lugar a atitudes de completa indiferença e desvalorização do sofrimento do outro, personificadas através de comportamentos observáveis e facilmente identificáveis. No outro dia, numa incursão pelo mundo real, decidimos ir às compras, afinal as coisas não chegam voluntariamente até nós. Ao vaguear pela loja à procura de alguma coisa do nosso interesse, cruzamo-nos com uma antiga vizinha, com quem a minha mãe mantinha uma convivência regular ainda que pouco aprofundada. Qualquer das maneiras, conheciam-se e a pessoa sabia exactamente o que se tinha passado. O minímo que se poderia esperar era um cumprimento, já nem digo uma palavra de força ou solidariedade, sabemos que as pessoas têm formas de reagir bastante diferentes e nem sequer sabem se para nós é fácil abordar esse assunto. Felizmente que apesar de ter sido um choque violento e cruel, conseguimos manter o que nos liga a ti e falamos abertamente de ti, das nossas recordações e de tudo o que de bom nos deixaste. Em vez disso, foi muito mais fácil para a aquela pessoa baixar a cara, passar para um lado mais afastado daquele onde nos encontravamos e simplesmente não dizer nada. O silêncio permitiu-lhe afastar o sofrimento que está espelhado nos nossos rostos. Estamos a sofrer é verdade, não conseguimos esconder isso, também é verdade e não temos que pedir desculpa por isso, mas nada disso nos tornou anti-sociais, ao ponto de deixarmos de falar às pessoas que conhecemos em maior ou menor grau. Nesse mesmo dia também, a minha mãe comentava comigo que tinha ido a uma pastelaria beber café e comprar o nosso pequeno-almoço, quando encontrou uma conhecida que, não obstante a tragédia em que a nossa vida se tornou ter sido torna pública de todas as formas e de essa pessoa ter até relações através das quais sabia do sucedido, lhe perguntou porque é que ela andava vestida de preto. Perante a cara que a minha mãe deve ter feito, a senhora disse "não ligue, tinha-me esquecido!". Nem questiono a possibilidade de esquecimento que para mim até pode ser real, tendemos a fazer delete na informação que não nos pertence, mas condeno veemente aquele comentário completamente desprepositado. Isto falando das pessoas que tiveram o 'azar' de se cruzar connosco, porque poderia dar milhentos exemplos de indiferença e desvalorização. Pessoas que se limitaram a estar presentes no funeral ou naqueles dias mais difíceis e que simplesmente desapareceram do mapa, afinal está morto e enterrado, fim de história. Como se fosse possível algum dia terminar uma história desta natureza. O choque foi brutal para todos e por isso foi fácil ter a casa desmesuradamente cheia naquela altura. Infelizmente nunca iremos ultrapassar verdadeiramente esta perda, por isso para aqueles que estiveram presentes, é difícil manter a amizade, a solidariedade e presença. Só posso pensar que essas pessoas acreditam que a nossa dor já se transformou, que foi restrita aquele universo temporal tão abragente pela quantidade de dias de espera que tivemos pela frente. Acredito que em alguns casos seja a tentativa de não incomodar, de nos dar maior privacidade ou até mesmo de não reviver todo o drama daqueles dias. A verdade é que não percebem que de alguma forma o seu conforto nos pode ajudar a encontrar força para viver um dia de cada vez. Depois também há outras pessoas que não têm a sensibilidade de perceber que na fase de luto em que nos encontramos ainda não temos a disponibilidade mental e física para grandes incursões em momentos de humor. Nós até nos rimos, felizmente que não perdemos a capacidade de rir, mas muitas vezes rimos na esperança de que a nossa mente se deixe contagiar, a grande maioria das vezes, senão todas, é mesmo um sorriso triste, mas sempre ouvi dizer do que mais triste do que um sorriso triste, é a tristeza de não saber sorrir. Então continuo a sorrir e a rir, embora as pessoas não entendam que não tenho vontade de me rir, que naquele momento não me é permitido vislumbrar a piada naquilo que elas estão a dizer. O defeito é meu, eu sei-o, mas a falta de sensibilidade é delas e isso magoa-nos, por uma qualquer intenção implícita de desvalorizar o que podemos estar a sentir.
Felizmente também tenho bons exemplos, de amizades que ganhámos ou fortalecemos com este infortúnio e essas para mim são inquestionáveis. Agradeço de coração todo o apoio que nos foi e tem sido dado, sem cada um desses gestos seria muito mais penoso para cada um de nós. Só me tem sido possível 'descansar' porque essas pessoas existem e estão a ter um papel fundamental na vivência da minha mãe. Não tenho forma de compensá-las a não ser com a amizade e nobres sentimentos que nutro por cada uma delas.
No entanto, sinto-me sozinha. Não sei se é um sentimento cultivado e alimentado por mim, talvez o seja, desde há algum tempo o que implica que só agora esteja a sentir a magnitude das suas repercursões. Ou não sei se é fruto da sociedade em que vivo (e da qual não me excluo), egocêntrica e narcisita que não tem tempo para dispender com acções de solidariedade social, mesmo que no âmbito das nossas relações mais próximas e mesmo que isso alimente a nossa rede social. Sentir-me sozinha num momento como estes é o pior sentimento que podemos acumular a este grau de sofrimento. Precisava de um suporte que muitas vezes não se limitasse às palavras de circunstância, mas que me segurasse sempre que eu não tivesse forças para caminhar...

Quase a regressar

Sei que não devo fazê-lo, mas é inevitável. Nos últimos dias tenho pensado tanto que estarias de regresso, inteiro e saudável, daqui a pouco mais do que 15 dias. Estaríamos novamente reunidos, trarias a alegria que nos tem faltado desde que te deixámos no aeroporto, partilharias connosco toda a bagagem dessa experiência que tanto ambicionavas. Nada disso vai ser possível. Mas é angustiante pensar que será o único a não regressar no contingente e nós seremos a única família que não terá a alegria de te ir esperar. É inevitável lutar contra as lágrimas que teimam em cair de cada vez que este pensamento espreita...

Rituais

Não sei onde estás, não sei se acredite que realmente nos acompanhas como eu gostava de crer. Às olho à minha volta e pergunto-me "Onde será que ele está?". Não detecto nada, nem o minímo sinal que me levasse a pensar que estarias por perto. Por vezes penso que só não nos avisas da tua presença porque não nos queres assustar, sabes que a dor que carregamos connosco já é grande o suficiente. Mas não te posso negar, seria reconfortante sentir-te. Isto para te dizer que em mais um ritual que fizemos procurei por ti. Foi ontem a missa, numa Igreja onde estiveste poucas vezes, mas por que é lá que nos sentimos melhor, espero que gostes da escolha. Procurei-te na Igreja e sempre que te procuro coloco em prática o reflexo pavloviano ao olhar para cima, para o ceú ou, naquele caso, para o tecto. Eu sei que é estupidez minha pensar que se estiveres ali, essa será a melhor forma de interagir contigo. Se tiveres mesmo presente sei que poderás não estar propriamente no ar e que podes mesmo estar sentado ao meu lado a abraçar-me, mas o que é que queres?! Todos sofremos destes condicionamentos que a sociedade implicitamente nos transmite.
Ontem portei-me mal, eu sei. É inexplicável, mas há momentos em que não me consigo controlar, por mais que tente. Talvez seja por que a elevação espiritual esteja mais próxima da energia em que eu acredito que te tornaste. Senti-me completamente desamparada ontem. Ouvia o Padre a dissertar acerca da conjuntura económica e política e das boas práticas para a ultrapassar, e não conseguia, de facto, encontrar uma ligação possível entre as duas evidências. É por tudo isto que não encontro mais valias naquele ritual, não da forma como ele é pronizado actualmente pela Igreja Católica. Sei que apesar da educação católica que recebeste, eras céptico na tua crença acerca do mundo, talvez impulsionado pelo teu espírito pragmático e racional. Sei também que apesar disso, nunca deixaste de praticar o bem, talvez até de forma mais ferverosa que muitos católicos praticantes, e sei que nunca renunciaste à religião e aos rituais que ela prevê. De alguma forma, a minha filosofia de pensamento é semelhante à tua, muito menos céptica, mas igualmente crítica. Mais do que assinalar datas da tua partida (missa do 3º mês), faz-me sentido criar um tempo e um espaço que nos permita recordar-te. Renunindo família, amigos e colegas sentimos mais que estás presente. Não consigo explicar racionalmente esta ideia, penso ter a ver com o facto de seres tu o denominador comum aos laços entre todas aquelas pessoas. Contudo, não entendo por que motivo a missa é colectiva (assistimos no início do ritual a uma leitura de diversos nomes, nos qual apenas identificamos o teu) e se limita a fazer cumprir as exigências da liturgia. Eu quero rezar por ti, para ser sincera queria mesmo rezar para que voltassesl, mas na impossibilidade de concretizar tal desejo, rezo para que a tua alma tenha o merecido descanso, para que não fiques aprisionado aos teus deveres terrenos. Mas quero acima de tudo rezar por ti num momento que te deseja exclusivamente dedicado, em que se fale de amor, de vida e de alegria, e, consequentemente, de perda, de dor e saudade. Perdi o meu pai, não estou ainda com disponibilidade mental para um sermão acerca do estado da nação ou até mesmo sobre a levitação da pedra. O nosso luto ainda está numa fase inicial, por um lado parece que passou uma eternidade imensa que nos faz sofrer horrores, por outro, parece que passaram apenas 3 dias e que ainda não absorvemos a realidade como ela é. Não temos 'pachorra' (perdoem-me a expressão) para isto! Não que a culpa seja do Padre, entenda-se. A 'culpa' a existir, está na forma como os rituais litúrgicos são entendidos actualmente, permeáveis mais a uma óptica de negócio do que propriamente na vertente espiritual; e está na cultura partilhada e na forma como encaramos o sofrimento dos outros. Não há aqui culpados e inocentes, todos nós assumimos ambos os papéis, assim nos seja dada a oportunidade.
Sabemos que nenhum dos rituais que cumprimos nos devolverá a paz perdida e, sobretudo, o que representavas para nós. Nada de pode trazer de volta, é um facto demasiado cruel que por vezes, e de forma inconsciente tentamos recusar. Na verdade os rituais cumprem um objectivo de paz interior, têm muito mais a ver com subterfúgios que procuramos para escoar toda a energia negativa que nos foi depositada e subtituí-la pela energia que, de alguma forma, nos continuas a transmitir. De cada vez que vamos ao cemitério levamos flores naturais, preferencialmente brancas porque é essa a cor que nos transmite mais calma, e arranjamo-la o melhor possível para que fiques também tu com um pouco de nós. É triste passar lá depois e verificar que o sol já secou as flores que com tanto carinho depositámos na tua moradia ou ver o que o vento foi tanto que derrubou e partiu a jarra que comprámos. Sossega-nos apenas a certeza de que o ritual foi cumprido, fomos lá, de coração aberto até ti. As missas são igualmente rituais. Já percebeste que não têm a essência que eu gostaria de lhes dar. Penso que em parte consegui na anterior dar alma àquele momento, mas nesta não me foi possível. Prometo-te que vou continuar a batalhar por isso e por fazer até uma cerimónia como mereces, mas tu sabes como estamos limitados. Mais importante do que isso, são os rituais a que individualmente damos lugar, por vezes coisas minímicas como parar em frente à tua fotografia e deixar cair a lágrima que está presa, falar contigo de forma espontânea, ver as tuas fotografias. Tudo isso são os nossos pequenos rituais diários que nos permitem conviver de forma saudável com a dor. Quero acreditar que és o principal testemunho deles e tu sabes como muitos deles são só nossos, porque sofrer à frente de alguém é uma experiência dolorosa. Na verdade, sofro todos os dias com a mesma intensidade, só não o demonstro na maioria das vezes, prefiro guardar para mim. É facilmente perceptível quando alguém está efectivamente solidário connosco e só nesses momentos vale a pena quebrar! Na maior parte do tempo, não encontramos essa solidariedade e continuamos a abafar a nossa dor...

Dor da saudade

O tempo passa e a saudade aumenta exponencialmente. Procuramos aceitar, chegamos mesmo a acreditar que o tempo ajuda a acalmar a dor. Esperanças irrisórias! O tempo tem essas duas facetas...se por um lado nos trás o hábito que recusamos incorporar no nosso dia-a-dia, por outro, empurra-nos para o abismo de ter que viver sem ti. Dou por mim inconsolável em muitos momentos! As recordações são o melhor e o pior. São sem dúvida o melhor que podemos guardar de ti, de nós enquanto família. Ainda ontem, deitada na minha cama, olhava para o cadeiro que me ajudaste a pintar e recordei cada palavra que me disseste. A tua disponibilidade e a vontade de fazer eram inegáveis. Dizias-me tu, "vamos tentar para ver como fica!". E tentámos. E ficou realmente bem. Não havia nada que eu te pedisse que tu não fizesses. Podia não ser no imediato, por vezes tinha até que insistir e relembrar-te, andavas sempre tão ocupado que era fácil esqueceres-te. Podia até não ser com a maior boa vontade, sobretudo quando não concordavas com alguma coisa, mas se eu pedia, tu só não fazias se não pudesses. Mas essas recordações são também o pior...é nesses momentos que atinjo realmente a falta que nos fazes e o quão preenchias as nossas vidas. São essas recordações tão felizes que me fazem questionar o porquê. E não estou a falar daquele sentimento egoísta muito frente nestas alturas, "Porquê a mim?" ou "O que é que eu fiz para merecer isto?". Eu pergunto antes, "Porquê a ti?", tu que tinhas tanta alegria e vontade de fazer, que punhas realmente o melhor de ti em tudo o que fazias, não era por acaso que tens aquela frase no msn "Põe quanto és no minímo que fazes!". Ainda hoje de cada vez que abro o msn, lá estás tu e lá está essa frase que me inspira a fazer melhor. Mas as recordações não nos permitem evoluir, a fasquia está alta e não queremos, de forma alguma superá-la, porque tu foste o melhor e continuarás a sê-lo da maneira que te é possível. A tristeza é imensa e eu sei que tu sabes...