agosto 29, 2005

gRaNdE LiÇãO

- Vocês não são nada parecidas com a minha rosa! Vocês ainda não são nada - disse-lhes o principezinho. - Não há ninguém preso a vocês e vocês não estão presas a ninguém. Vocês são como a minha raposa era. Era uma raposa perfeitamente igual a outras cem mil raposas. Mas eu tornei-a minha amiga e, agora, ela é única no mundo. (...) Vocês são bonitas, mas vazias - ainda lhes disse o principezinho. - Não se pode morrer por vocês, para um traseunte qualquer, a minha rosa é perfeitamente igual a vocês. Mas, sozinha, vale mais do que vocês todas juntas, por foi a ela que eu reguei. Porque foi a ela que eu pus debaixo de uma redoma. Porque foi a ela que eu abriguei com o biombo. Porque foi a ela que eu matei as lagartas (menos duas ou três, por causa das borboletas). Porque foi a ela que eu ouvi queixar-se, gabar-se e até, às vezes, calar-se. Porque ela é a minha rosa.

(...)

Vou-te contar o tal segredo. - Disse a raposa. - è muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos... (...) Foi o tempo que tu perdeste com a tua rosa que tornou a tua rosa tão importante. (...) Os homens já se esquecram desta verdade. Mas tu não te deves esquecer dela. Ficas responsável para todo o sempre por aquilo quie está preso a ti. Tu és responsável pela tua rosa.

In, O Principezinho, Antoine de Saint-Exypéry

UNiãO

agosto 26, 2005

ApENaS hOjE...


Existem dois dias com os quais não nos devemos preocupar. Devemos estar livres do medo e da apreensão que eles nos provocam e simplesmente viver!

Um desses dias é o ONTEM, que com os seus erros e pecados, com os seus obstáculos e cuidados, com as suas vitórias e quedas, com o seu sofrimento e dor, com os seus amores e desamores, passou para sempre, saiu do âmbito do nosso controlo. Todo o dinheiro deste mundo não trará de volta nem um segundo do dia de ontem, por isso não podemos retirar ou acrescentar uma palavra ao que dissemos ou tão pouco mudar alguma coisa no nosso comportamento. O Ontem já se foi…

O outro dia com que não devemos nos preocupar é o AMANHÃ, que com os seus adversários impossíveis, as suas responsabilidades, as suas promessas e esperanças, ainda não chegou. Amanhã será um novo dia, o sol nascerá em esplendor ou escondido atrás das nuvens, mas nascerá. E até lá, não nos fixemos nele, porque o amanhã é o desconhecido, a incógnita que apenas se revelará amanhã!

Deste modo, resta-nos apenas um dia, o HOJE. Temos uma batalha diária para travar e só quando aumentamos as responsabilidades do ontem e do amanhã é que caímos, porque a tristeza não vem da experiência de hoje, mas do remorso e da amargura por algo que aconteceu ontem e pelo receio do que o amanhã possa trazer. Por isso aprendamos a viver o HOJE, sem uma falsa saudade do ontem e um novo receio do amanhã.

agosto 21, 2005

SaUdAdE...


A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração.

Frase: Henrique Maximiliano Coelho Neto - Romancista e contista brasileiro

Foto: Man Ray, Tears

agosto 13, 2005

POrQuE

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


Sophia de Mello Breyner

agosto 05, 2005

CírCuLO do AMOR

Certa manhã, um camponês bateu com força à porta de um convento. Quando o irmão porteiro abriu, ele estendeu-lhe um magnífico cacho de uvas.
- Caro irmão porteiro, estas são as mais belas produzidas pelo meu vinhedo. E venho aqui para as dar de presente.
- Obrigado! Vou levá-las imediatamente ao abade, que ficará feliz com esta oferta.
- Não, trouxe-as para si.
- Para mim? Eu não mereço tão belo presente da natureza.
- Sempre que bati à porta, você abriu. Quando precisei de ajuda porque a colheita foi destruída pela seca, você deu-me um pedaço de pão e um copo de vinho todos os dias. Eu quero que este cacho de uvas lhe traga um pouco do amor do sol, da beleza da chuva e do milagre de Deus.

O irmão porteiro colocou o cacho diante de si e passou a manhã inteira a admirá-lo: era realmente lindo. Por causa disso, resolveu entregar o presente ao abade, que sempre o tinha estimulado com palavras de sabedoria.
O abade ficou muito contente com as uvas, mas lembou-se de que havia no convento um irmão que estava doente, e pensou: «Vou dar-lhe o cacho. Quem sabe pode trazer alguma alegria à sua vida.»
Mas as uvas não ficaram muito tempo no quarto do irmão doente, porque este reflectiu: «O irmão cozinheiro tem cuidado de mim, alimentando-me com o que há de melhor. Tenho a certeza de que isto lhe trará muita felicidade».
Quando o irmão cozinheiro apareceu à hora de almoço, trazendo a sua refeição, ele entregou-lhe as uvas.
- São para si. Como está sempre em contacto com os produtos que a natureza nos oferece, saberá o que fazer com esta obra de Deus.
O irmão cozinheiro ficou deslumbrado com a beleza do cacho e fez com que o seu ajudante reparasse na perfeição das uvas; tão perfeitas que ninguém melhor para as apreciar do que o irmão sacristão, responsável pela guarda do Santíssimo Sacramento, e que muitos no mosteiro viam como um homem santo.
O irmão sacristão, por sua vez, deu as uvas ao noviço mais jovem, de modo a que este pudesse entender que a obra de Deus está nos mais pequenos pormenores da Criação. Quando o noviço o recebeu, o seu coração encheu-se de glória do Senhor, porque nunca tinha visto um cacho tão magnífico. Nessa altura lembrou-se da primeira vez que chegara ao mosteiro e da pessoa que lhe tinha aberto a porta; fora esse gesto que lhe permitira estar hoje naquela comunidade de pessoas que sabiam valorizar os milagres.
Assim, pouco antes do cair da noite, ele levou o cacho de uvas ao irmão porteiro.
- Coma e aproveite, porque você passa a maior parte do tempo aqui sozinho e esta uvas irão fazer-lhe muito bem.
O irmão porteiro percebeu que aquele presente lhe tinha sido realmente destinado, saboreou cada uma das uvas daquele cacho e adormeceu feliz. Desta maneira, o círculo foi fechjado; um círculo de felicidade e alegria, que se estende sempre em torno de quem está em contacto com a Energia do Amor.

In Zahir, Paulo Coelho